terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A Publicidade Infantil e a Responsabilidade dos Pais

Li recentemente este artigo no Observatório de Imprensa, do qual não concordei muito. Mas mais do que não concordar com o artigo, eu não concordei principalmente com os comentários. Na minha visão, parecem pais querendo se redimir da responsabilidade de preparar seus filhos para o mundo, culpando as agências de publicidade por todo o mal. Postei um comentário (Mauricio S.B., Enviado em 29/12/2010 às 19:12) esclarecendo a minha visão. E um pai respondeu, se bem o entendi, questionando que alternativa ele teria. Assim, respondo aqui uma idéia.

Claro, é necessário falar a linguagem da criança, e conversar com ela nos termos do mundo dela. Vou dar uma sugestão de atitude aos pais: ao identificar que a criança quer muito um brinquedo, e que isto se deve quase exclusivamente ao poder da propaganda, conversar bem com ela para que ela deixe bem claro que quer muito o brinquedo. "Você quer mesmo, filho? Quer muito? Não pode ser outro parecido? Tem certeza que quer? Vai brincar bastante com ele?" A criança irá confirmar, e você dará o brinquedo. Se tudo ocorrer como esperado, ela não verá graça no brinquedo por muito tempo e logo o abandonará no "baú". Em seguida, a criança desejará outro brinquedo, e aqui reside a oportunidade. Os pais podem conversar com ela assim: "Você quer mesmo? Quer muito? Aquele brinquedo X que tu queria muito está abandonado no baú, tu nunca mais brincou com ele. Não vai acontecer o mesmo com este, certo? Tu quer mesmo?" Faço aqui uma pausa para explicar, embora isto não seja tudo. Com esta atitude estamos dando à criança a oportunidade de avaliar os próprios sentimentos. Nas crianças, o processo evolutivo mental/emocional ocorre muitas vezes de forma não-consciente, e por isto elas geralmente tem tanta dificuldade em verbalizar o que estão sentindo e pensando. Mas estes processos ocorrem mesmo assim. Aqui, acredito que a criança vai avaliar as próprias emoções, o desejo que sente, etc. Claro, em um primeiro momento ela não vai tomar consciência do que está acontecendo, mas isto é um processo, e o processo terá sido iniciado. Este processo é fortemente reforçado com a sutil cobrança de que o mesmo não aconteça de novo. A conversa então pode seguir desta forma: "Eu também vi a propaganda, parece muito legal, né? Mas na propaganda tinha aquela praia artificial que não temos aqui em casa. Na propaganda tinha (outra coisa) que também não temos." Aqui, estamos apenas incentivando a criação de um senso crítico da criança, sem gerar expectativas ou cobranças. Tu está "dando o caminho" sobre como se analisa aquilo que está tentando te manipular. Tu está "desconstruindo" a propaganda. As crianças não tem um poder analítico muito apurado, e acabam avaliando o conjunto da obra como um todo (no caso, a propaganda). A princípio, elas não são capazes de ver separadamente o real (brinquedo) e o imaginário (praia artificial, etc). Por isto se encantam. Com este tipo de comentário, tu está ensinando ela a fazer esta separação. Só assim ela pode, posteriormente, colocar seu foco naquilo "que importa", e descartar o superfluo. Você está sim dizendo: "pense, minha filha, você está sendo manipulada pela Indústria..." mas numa linguagem que ela entende. Provavelmente este segundo brinquedo você também acabará comprando, por ser muito cedo para mudanças significativas. Mas quando surgir o terceiro brinquedo, além dos questionamentos acima, tu já pode esboçar um compromisso, para reforçar/acelerar o processo. Algo do tipo: "Tu quer muito? O brinquedo X e o brinquedo Y tu também disse que queria muito, mas parou de brincar com eles em menos de um mês, enquanto tu brinca seguido o brinquedo K faz um ano. Vou comprar mais este, mas se eu perceber que tu não quer mais ele depois de um mês, eu vou ." Com isto tu aumenta o grau de seriedade do problema de a criança fazer uma avaliação errada, incentivando ela a se esforçar mais na sua avaliação, resultando num amadurecimento mais adequado. Além de "aliviar" a pressão que a criança faz em ti, se te aperta o coração toda vez que ela te pede um brinquedo... :)

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